Deus Não Pode Ser Onipotente E Ao Mesmo Tempo Onibenevolente!

Deus Não Pode Ser Onipotente E Onibenevolente!

Deus Não Pode Ser Onipotente E Onibenevolente!
Deus, o Mal e a Liberdade: Como a Onibenevolência e a Onipotência Podem Coexistir.

Um dos dilemas mais antigos e perturbadores da filosofia e da teologia é este:

Se Deus é todo-poderoso e perfeitamente bom, por que o mal existe?

Essa pergunta, atribuída originalmente a Epicuro e amplamente desenvolvida por pensadores como David Hume e J.L. Mackie, sugere que a existência do mal torna impossível a coexistência de duas características fundamentais atribuídas a Deus: onipotência (poder absoluto) e onibenevolência (bondade infinita).

O raciocínio clássico segue mais ou menos assim:

  1. Se Deus é onipotente, então Ele pode impedir o mal.
  2. Se Deus é onibenevolente, então Ele deseja impedir o mal.
  3. O mal existe.
  4. Logo, Deus não pode ser ao mesmo tempo onipotente e onibenevolente.

À primeira vista, esse argumento parece irrefutável. No entanto, ao olhar mais de perto, percebemos que há uma suposição silenciosa por trás dele — e é justamente aí que está a falha.

Liberdade: A Ponte Entre o Bem e o Mal

O ponto que muitos ignoram nesse dilema é a natureza da liberdade moral.

Liberdade verdadeira não é apenas a capacidade de escolher entre sabores de sorvete ou caminhos profissionais. É, acima de tudo, a capacidade de escolher entre o bem e o mal, entre obedecer à ordem moral ou desafiá-la. Um ser moralmente livre deve ser capaz de dizer "não" a Deus — não por ignorância ou confusão, mas por decisão própria.

E é aí que o dilema se reconfigura.

Se Deus deseja criar seres capazes de amar verdadeiramente, de praticar o bem não por imposição, mas por decisão pessoal, então Ele precisa criar seres com liberdade moral real. Mas isso significa aceitar um risco inevitável:

A liberdade moral só existe se houver a possibilidade real do mal.

O Mal Como Possibilidade, Não Como Contradição

Deus não criou o mal como uma entidade ativa.
Ele criou a liberdade — e a liberdade, por definição, inclui a capacidade de agir contra o bem.

O mal, nesse contexto, não surge de uma falha divina, mas de uma escolha da criatura racional.
Tanto os anjos que caíram quanto o homem no Éden não agiram por ignorância — agiram com consciência, desafiando a ordem do bem por autodeterminação da vontade.

Isso significa que:

  • Deus é onipotente, pois pôde criar seres livres mesmo sabendo do risco.
  • Deus é onibenevolente, pois decidiu conceder liberdade, mesmo com o alto preço que isso poderia acarretar.
  • O mal existe, não como criação direta de Deus, mas como um subproduto inevitável da liberdade moral verdadeira.

E a Bondade de Deus Diante do Mal?

A verdadeira bondade de Deus não se manifesta apenas em impedir o sofrimento ou eliminar o mal de forma imediata. Ela se manifesta:

  • Na paciência com o rebelde;
  • Na oferta de redenção ao caído;
  • Na justiça final que restaura a ordem;
  • E no convite constante ao bem, feito a cada ser humano, todos os dias.

Deus não é indiferente ao mal. Mas Ele ama a liberdade mais do que odeia o sofrimento, e por isso, permite que sejamos protagonistas de nossas escolhas — e também coautores do bem, mesmo após a queda.

Conclusão: O Mal Não Invalida Deus — Ele Revela Sua Coragem

A existência do mal, longe de negar a bondade e o poder de Deus, revela a profundidade de Seu projeto:

Um universo habitado por seres livres, capazes de escolher o bem não por programação, mas por amor.

Se Deus tivesse criado apenas criaturas perfeitas e incapazes de errar, Ele teria criado máquinas.
Ao criar seres livres, Ele aceitou o risco do mal — e com isso, abriu espaço para um bem ainda maior:

O bem que nasce da liberdade, do arrependimento, da redenção, e do amor que escolhe, entre alternativas reais, aquilo que é bom.

Frase final para reflexão:

A liberdade é o solo fértil onde o mal pode nascer — mas é também o único terreno onde o amor verdadeiro pode florescer.

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